O pior ano da minha vida, ou adeus 2019

Todo ano da minha vida havia sido melhor que o anterior, esse ano poderia ter seguido essa regra, mas não foi assim.

Profissionalmente foi um ano desafiador, uma nova função, adaptação às diversas mudanças, muita excitação e aquela pontinha de sindrome do impostor foram sentimentos presentes. Não houveram surpresas porque venho a anos me preparando para isso e os resultados refletiram bem toda essa preparação e dedicação, mas ainda assim, a minha auto-avaliação não me deixou satisfeito e muito disso foi influenciado pelo mau momento na vida pessoal.

Na vida pessoal era a hora de realmente encarar a paternidade, deixando de ser suporte materno e tendo uma interação e respostas mais ativas na chegada do primeiro ano do meu filho. Não é fácil. Coisas que eram triviais antes se tornaram bem mais complexas, acabaram os passeios a noite, as saídas, cinema? Nem lembro a ultima vez que fui. Amigos? Os que não tem filho foram sumindo aos poucos. Trabalhar de casa, o que deveria ser um ótimo beneficio, acabou se tornando um martirio, é péssimo tentar trabalhar quando seu filho está ali, você se sente culpado por não dar atenção. Vocês que trabalham de casa e tem filhos, como vocês lidam com isso?

Por fim, o momento mais marcante, a perda do meu pai. Uma semana antes do dia dos pais, era o meu dia dos pais como pai e o primeiro dia dos pais sem meu pai. Foi duro. Eu sempre achei que estaria preparado para esse momento, mas não, nunca estamos.

Que venha 2020, e aguardem a volta do post de metas.

Essa é uma história sobre o tempo

Essa é uma história sobre o tempo

Sabe esse papo de guarde experiências e não coisas? Não leve isso tão a risca. O legado de um ídolo é aquilo que ele deixa marcado nas pessoas, algumas vezes existem objetos que fazem a ponte entre esses momentos.

Adezino, um pernambucano, no auge dos seus 80 e muitos anos, com a cor resultante da mistura mais brasileira possível: índio, negro e algum tipo europeu. Cabelos totalmente brancos, era alto e forte, pelo menos na minha visão de criança.

Todos os dias da semana, sem exceção, seu Adezino puxava uma cadeira da sala para fora da casa, se sentava junto a grade do portão, camisa aberta, calça social, sandálias de couro, exibia o porte atlético digno de um atleta, mesmo sem nunca ter entrado numa academia.

No braço esquerdo, havia um relógio, inox, maquina azul, pulseira meio frouxa, deixava o relógio virado para o pulso. Era um orient automático.

Sentado ali em seu compromisso dial, de frente para a rua, era constantemente interpelado por algum desavisado que perguntava as horas, numa época em que não haviam celulares, você tinha seu próprio relógio ou precisava sempre consultar alguém que tivesse.

A tal pergunta, ele respondia sem pestanejar:

_ Para o que você está indo fazer está cedo!

Aquele orient automático ia se mitificando, era intocável e me gerava um misto de curiosidade e respeito. Eu queria saber como funcionava, porque não precisava de bateria? Era grande, pesado, brilhante e estava no braço daquele homem. O relógio era intocável, era o relógio do meu avô!

Não precisava de bateria para funcionar, tampouco era a corda, funcionava só com o movimento natural do braço. Numa dessas tardes, onde pontualmente meu avô ficava ali, olhando o movimento, o vai e vem de pessoas e o pôr do sol, aquele relógio recebeu sua última carga.

A vida presenteou meu avô com muitas segundas chances de viver, talvez se sentar ali religiosamente todos os dias fosse o seu ritual de agradecimento.

Hoje às vésperas do meu aniversário, fui presentado com um relógio igual, cada vez que olhar as horas, me lembrarei desse homem que infelizmente não tive o tempo nem a maturidade necessária para assimilar tudo que ele poderia ensinar.

Mas, nunca esquecerei, que para o que estou indo fazer, ainda é cedo!

O relógio e o vapor onde meu avô trabalhou por anos.